Picos e cavas: a consistência é necessária para o futuro da energia renovável
É amplamente aceite que as fontes de energia renovável são o caminho a seguir para um futuro sustentável. Mas também não é segredo que estas fontes de energia são particularmente irregulares. Alguns dias são mais ventosos ou mais soalheiros do que outros, e esses altos e baixos criam uma inconsistência que torna as renováveis menos fiáveis como fontes de energia do que os combustíveis fósseis. Mas o futuro está cheio de esperança, e de ideias e tecnologias em constante desenvolvimento para combater este problema.
Vários problemas estão associados à produção irregular de energia, sendo o mais óbvio que não é realista proporcionar um fornecimento de eletricidade pouco fiável aos consumidores que esperam tê-la 24 horas por dia. Para equilibrá-lo, as energias renováveis funcionam em sintonia com as convencionais para preencher as lacunas e criar um fornecimento consistente. Mas a rede elétrica tem apenas uma capacidade limitada, pelo que o excesso de energia deve ser reduzido ou armazenado. Nem todas as fontes de energia podem ser facilmente “desligadas” – a nuclear, por exemplo, demora tempo a ser desligada, ao passo que é relativamente rápido no caso da hídrica –, pelo que a redução recai frequentemente sobre as renováveis. Deveras contraproducente ao objetivo do fornecimento de energia verde. Um excesso de oferta de energia quando não há lugar onde possa ser usada ou armazenada, pode significar um desperdício de energia ou, pior ainda, pode causar falhas na rede.
Uma das maneiras que estes problemas estão a ser abordados é exportando o excesso de energia ao ser produzida. Na Europa, trata-se de um sistema viável que já foi utilizado eficazmente por países como a Dinamarca e a Alemanha. As ligações por cabos de energias renováveis fornecem elos entre redes vizinhas, permitindo o comércio de energia quando, por exemplo, um parque eólico conhece uma produção excecional como na Dinamarca em 2015. As interconexões permitiram partilhar 80% do excesso de energia entre a Alemanha, a Suécia e a Noruega.
Mas estas ligações nem sempre são geograficamente possíveis. Países como a Austrália não conseguem partilhar energia tão facilmente devido ao seu isolamento, e também porque o próprio país é tão grande que mesmo a partilha entre Estados é um desafio. É aqui que o armazenamento entra na equação. Embora não seja ainda uma solução generalizada, empresas como a Tesla estão a trabalhar para fazer o armazenamento industrial e privado de energia renovável uma realidade. As suas baterias dão às famílias e às empresas o potencial de aproveitar as reservas de energia solar produzidas e armazenadas nos dias de produção excedentária. A Tesla até se ofereceu para ajudar a Austrália na criação de parques de baterias para a sua rede elétrica no sul do país, para além de outras empresas que esperam fazer o mesmo. As centrais de baterias poderiam ser uma solução para fazer da energia renovável uma alternativa fiável. Além disso, com a descida dos preços de painéis solares, cabos fotovoltaicos e conectores, as baterias privadas também poderiam constituir uma alternativa económica, tanto para as empresas como para as famílias, de armazenarem ou mesmo lucrarem com a produção de energia excedentária.
Investigadores na Alemanha estão a utilizar a aprendizagem automática para melhorar os modelos preditivos para que possam planear com maior precisão quando haverá uma produção excessiva ou insuficiente de energia renovável. Usando sensores nas turbinas ou nos painéis solares, os investigadores registam as velocidades do vento e a intensidade da luz solar e utilizam esses dados combinados com observações da estação meteorológica para fazer previsões. Ao comparar as previsões com o que realmente ocorre, a aprendizagem automática é capaz de melhorar os modelos preditivos ao procurar por padrões. Isto irá ajudá-los a planificar e coordenar melhor com centrais elétricas convencionais a ajustar a sua produção e evitar o desperdiço de energia ou o risco de falha que pode ser causado por uma entrada de energia.
Muitos países têm metas de energia renovável ambiciosas para o futuro; é, portanto, mais importante do que nunca tornar as energias renováveis uma alternativa fiável e sustentável.