Energy Voice: O Reino Unido está preparado para os veículos elétricos?
Ao passo que o filme “Total Recall” (“Desafio Total”), protagonizado por Arnold Schwarzenegger, imaginava um futuro onde entraríamos num táxi com aspeto bastante pateta chamado “Johnny Cab” para darmos de caras com um condutor robótico destravado, o futuro de hoje, felizmente, parece mais sofisticado, pelo menos no que diz respeito aos veículos elétricos (VE).
O Conselho Municipal de Oxford anunciou que irá avaliar uma série de postos de carregamento urbanos; mas o governo britânico ainda foi mais longe ao anunciar que pretende proibir a venda de todos os veículo a gasolina e a diesel a partir de 2040.
Contudo, mantém-se a pergunta: quão preparados estamos para os VE?
“É um pouco como o caso da galinha e do ovo”, disse Jean-Sébastien Pelland, diretor da Eland Cables e fornecedor do mercado dos VE.
“Os postos de carregamento devem estar disponíveis onde for mais conveniente para as pessoas ligarem os seus VE; caso contrário, não atrairá o condutor médio. É por isso que os veículos híbridos têm sido mais bem sucedidos até a data – combinando o fator de boa sensação e respeitador do ambiente de um veículo elétrico com os aspetos práticos de um veículo a gasolina ou a diesel.”
O Sr. Pelland acredita que serão os países cujos governos colaborarem com os seus respetivos setores energéticos, que mais rapidamente farão a transição e com o mínimo de confusão.
Afirmou: “Temos um grande número de partes interessadas, dos setores público e privado, que terão de colaborar, e isso inclui o governo, os conselhos municipais locais e os operadores de redes de distribuição que recorrerão a contratantes e fornecedores dos vários componentes, como a Eland Cables.
Dado o compromisso de 2040, tanto da Grã-Bretanha como da França, de mudar dos veículos tradicionais a gasolina e a diesel para os elétricos, existe agora um movimento decidido a trabalhar nesse sentido. No entanto, como o Sr. Pelland já salientou, muitas vezes não são os governos, mas o mercado que dita quando uma transição como essa avança.
Afirmou: “A Grã-Bretanha não estava preparada quando foi lançado o primeiro veículo elétrico e mesmo hoje em dia ainda não é totalmente viável até que a infraestrutura esteja instalada. E a infraestrutura não será instalada até que seja necessária.
“A Grã-Bretanha está cada vez mais empenhada na tecnologia dos veículos elétricos. Os detalhes de como isso irá evoluir ainda estão por definir, mas, resumidamente, se vermos uma melhoria progressiva da tecnologia das baterias, isso permitirá que os VE alcancem a funcionalidade da dos veículos a gasolina ou a diesel.”
Para que a transição ocorra com o mínimo de controvérsia, haverá necessidade de uma grande mudança cultural. Alguns acreditam que, atualmente, não existem pontos positivos suficientes para superar os negativos relativos ao que um VE pode fazer quando comparado com um veículo tradicional a gasolina ou diesel.
A USEV, uma equipe de estudantes da universidade de Strathclyde, que construiu o seu próprio veículo elétrico com a ajuda da Shell, acredita que, para uma transição bem-sucedida, são necessárias mudanças tanto a nível da infraestrutura como das atitudes.
Martin Riis, um estudante de engenharia elétrica, acredita firmemente que a quantidade de postos de carregamento instalados será crucial para o sucesso inicial, mas admite que os VE apresentam desvantagens que serão culturalmente difíceis de superar.
Afirmou: “Tudo se resume na verdade à quantidade de postos de carregamento e à velocidade de carregamento. Se pensar num veículo elétrico normal sem quaisquer capacidades de carregamento rápido, que leva várias horas a ficar totalmente carregado e pode fazer com que uma viagem demore muito mais tempo.
“Uma viagem de Aberdeen a Manchester exigiria uma paragem algures para pernoitar enquanto espera que o seu carro fique carregado, o que faria aumentar as despesas.”
O Sr. Pelland também aponta para a falta de opções de veículos elétricos de gama média a alta atualmente disponíveis no mercado, que, segundo ele, é essencial para convencer os consumidores a mudarem, levando eventualmente à eliminação completa do modelo de propriedade.
Afirmou: “Em termos de mudança cultural, os veículos elétricos não têm atualmente a melhor imagem para o grande público. Foram muito populares entre os primeiras a adotá-los, mas, até recentemente, não havia opções de gama média ou alta acessíveis nesse mercado.
“A Tesla lançou agora veículos de gama alta acessíveis, o que deverá torná-los mais atrativos como opção para muitas pessoas. Não esqueçamos que o carro continua a ser um símbolo de status.
Dito isto, penso que está a ocorrer uma mudança gradual no sentido do modelo "pay-as-you-go" (pague o que usar) através de serviços como Zipcar ou mesmo Uber, em que nem sequer somos proprietários do carro e, muito provavelmente, nem o conduzimos. Quando chegar essa altura, os utilizadores ficarão muito menos preocupados com os aspetos práticos dos veículos elétricos.”